quinta-feira, dezembro 15, 2005

As eleições no Iraque

Transcrevo do eurodeputado Paulo Casaca o artigo de opinião “ O desastre iraquiano “
publicado no semanário “Expresso das nove”

“Quando este artigo for publicado já se terão consumado as "eleições" no Iraque, e com elas, tudo indica, um desastre de catastróficas proporções para o povo mártir do Iraque e para todos os que no Ocidente lutam pela liberdade, pela democracia e contra a ameaça do fanatismo islâmico (jihadismo). Al Allawi, primeiro-ministro do Governo Provisório nomeado pelas forças aliadas, já declarou publicamente que a ditadura exercida hoje pelos representantes de Teerão que tomaram conta dos principais mecanismos do poder no país que controlam é pior que a exercida por Saddam, e tudo me leva a crer que ele tem toda a razão.

A última notícia que recebi do Iraque foi a da prisão do meu amigo Abdullah Al-Jabouri, dentista britânico de origem iraquiana que acedeu ao convite que lhe foi feito pelas forças aliadas para ser, provisoriamente, Governador da Província de Dyiala até às eleições.

Quando estive com ele em Julho, no Iraque, desassombrado e corajoso, denunciou-me a transformação e infiltração na polícia e no exército iraquianos das milícias controladas pelo regime de Teerão, com a montagem de um estado terrorista com esquadrões de morte, prisões secretas e tortura. Os seus colaboradores foram sendo assassinados um a um; ele próprio foi-se mantendo milagrosamente vivo. As eleições na província de que ele era governador foram uma farsa, com a sua própria lista eliminada ilicitamente das candidaturas. Na altura, ninguém ainda falava da implantação do Estado de Terror generalizado no Iraque, ninguém dizia que o bando terrorista de Al-Zarqawi era apenas um de entre muitos e nem sequer o mais mortífero. Tinham passado ainda "despercebidos" no Ocidente os sistemas de cadeias secretas, das quais, no entanto, toda a gente falava no Iraque. Quando, finalmente, as prisões são oficialmente denunciadas pelas forças norte-americanas, e é desmantelada a primeira, eis que a Human Rights Watch descobre oportunamente a rede de prisões secretas da CIA na Europa e ninguém mais fala do assunto.

Abdullah Al-Jabouri não desmobilizava e mostrou-se, então, pronto para o combate nas eleições de Dezembro, com um misto de realismo e optimismo que já então me espantava. Ele está agora numa prisão. De acordo com amigos comuns, não é provável que o regime o elimine, porque ele é um peixe demasiado importante para isso. Trata-se apenas de o pôr "fora-de-jogo" nestas semanas que antecedem as eleições para assegurar que a "chapelada" vai decorrer como previsto. Mas a mesma sorte não terão muitos outros. Enquanto isso, o Ocidente vai assistindo ao desenrolar de uma política suicida no Iraque, de onde foi expulso um ditador de uma geração e de uma família política em liquidação final para permitir a expansão da mais tenebrosa e perigosa ditadura do Mundo de hoje. Os meus melhores votos para Abdullah, e que possa passar o Natal livre e fisicamente íntegro com os seus. Que dias melhores venham para o Iraque.”

O silencio generalizado dos partidários da intervenção militar sobre a situação actual no Iraque apenas vem realçar, se preciso fosse, mais uma vez o erro politico-militar de uma intervenção desastrosa para a humanidade.

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